31.5.06

PENSAR CIENTIFICAMENTE!

Os progressos da ciência conseguem-se como sequência de um trabalho cuidadoso e rigoroso. Desenvolve-se num caminho mais ou menos sistemático, procurando responder a questões científicas. Este caminho é apelidado de método científico e é corporizado por um agregado de regras básicas em que o sujeito/investigador desenvolve uma experiência. Primeiro questiona-se sobre como desenvolver a observação de um facto, segue-se a formulação do problema, avança-se uma proposta de hipótese e a realização de uma experiência procurando aferir a validade da hipótese. Finalmente desenvolve-se a análise dos resultados e a conclusão.
O método, entre outras coisas, significa o curso para chegar a ao objectivo, a "verdades científicas” apoiadas em regras ou numa regra científica fundamental. Aqui podemos definir cientista a partir da definição de método, conforme tentou Popper ao propor o falsificacionismo, ou definir método a partir da definição de cientista.
A hipótese como a via que deve levar à formulação de uma teoria que explica a ocorrência, foi negada por Popper. Este, desacreditando que o caminho partia das observações para teoria geral, defende uma teoria proposta a priori como uma suposição inicialmente não validada que deve resistir aos testes a que é submetida.
O homo faber usa de técnica enquanto conjunto dos meios e os processos que permitem obter um resultado desejado. Esta, a técnica, apoia-se sobre a experiência do sujeito que a usa ou sobre a ciência que o sujeito possui para chegar ao objecto. A técnica apenas se preocupa com a utilidade e a eficácia, ou seja, com os meios. Se um arqueólogo se usar apenas da técnica, preocupando-se apenas com os meios e não com os fins, pode obter com o seu trabalho um efeito simplesmente perverso!

A técnica não se sustenta a si própria. Embora alguns defendam a sua conexão ao ser-se humano, o serviço técnico deve seguir o método científico, apoiar-se em teoria ou em teorias, submeter ao julgamento da ética inerente ao sujeito/agente do exercício ou ao grupo em que este se insere.

Se noutro tempo a palavra grega tekhne designava qualquer knowhow: no campo das práticas utilitárias ou no plano da arte. Hoje a palavra designa mais apenas uma actividade utilitária, desenvolvida pelo homem.
Os filósofos da ciência foram catalogando a exactidão do conhecimento. Em 1970, Popper, considerado por muitos como o filósofo mais influente do século XX refere como a maior descoberta de Kuhn o facto de este ter notado que há períodos do desenvolvimento de uma dada especialidade científica em que os cientistas se dedicam a resolver os problemas deixados em aberto pelo paradigma em vigor. Ambos acreditam que a verdade evolui e que nunca pode ser absolutamente conhecida!
Nietzsche propõe uma nova concepção do pensador: não se procura o “conhecimento verdadeiro”, mas sim interpretar e avaliar. A interpretação procura fixar o sentido de um fenómeno, parcial e fragmentário e a avaliação tenta decidir sobre o valor hierárquico desses sentidos, somando os fragmentos sem eliminar a pluralidade - a arte de interpretar e a coisa a ser interpretada.
E hoje como podemos nós aceitar o que foi dito e cogitado sobre o conhecimento em Arqueologia? Como podemos nós testar as nossas hipóteses nas situações de emergência? Ou será que apenas somos sujeitos técnicos com experiência rotineira? Será que é importante haver debates onde se cultive uma grande interacção entre todos os arqueólogos?... Discussões entre os investigadores que desenvolvem trabalhos de longa duração e aqueles que desenvolvem trabalhos de emergência? Poder-se-á resolver alguns problemas em aberto, permitindo minimizar a perca de conhecimento sobre o passado? Poder-se-á chegar a um melhor objectivo se forem conhecidos melhores meios? Poder-se-ão avaliar os meios se se considerarem diferentes fins conseguidos por variados sujeitos/arqueólogos? Porque esperamos…?

18.5.06

Dando forma ao GAT.

Chegou a hora de começar a pensar numa Comissão Provisória para o GAT. A nossa sugestão passa por nomear o Gonçalo Leite Velho para direccionar o processo.
Também, sugerimos que seja discutida a proposta apresentada pelo Gonçalo, a qual reproduzimos abaixo.

“A minha proposta é a seguinte:

- O GAT (Grupo de Arqueologia Teórica) é um grupo de trabalho alargado que inclui todos aqueles que participam na conferência anual. A cada conferência, ao pagarem a inscrição, os participantes passam automaticamente a membros do GAT.
- O GAT tem uma Comissão composta por um moderador, um tesoureiro, um secretário e 3 vogais, que são eleitos anualmente na Assembleia Geral do GAT. Esta Assembleia Geral realiza-se sempre na última tarde do congresso anual, sendo moderada pela Comissão.
- À Comissão cabe o papel de garantir que o encontro anual se realizará, permitindo assim que o grupo prossiga.
- Para a organização da conferência anual são colocadas propostas, à Assembleia Geral do GAT, que elegerá a que considera mais apropriada. Estas propostas são colocadas por um indivíduo ou grupo, devendo conter todas as informações relativas às condições de realização do Congresso (local, datas, logística, etc).
- É da responsabilidade do organizador da conferência anual publicar as actas do encontro, podendo ser utilizado o suporte electrónico, ou outro que o organizador considere mais válido.
- As actas do encontro deverão ser publicadas anteriormente à realização do encontro seguinte. Caso tal não aconteça a edição passará a ser da responsabilidade da comissão executiva, perdendo o organizador todos os direitos de editor.

Algumas outras notas:
O GAT não pode ser uma coisa tipo "fogacho". Tem de se estabelecer uma dinâmica que permita que o acontecimento se repita ano após ano.
Para já deve-se estabelecer uma Comissão Provisória, como acontece com as associações. Como as coisas têm passado por este blog penso que a Comissão Provisória passa pelas pessoas que têm vindo a dedicar mais tempo a esta ideia, mas temos de dar o salto para uma outra realidade. Acho que a questão dos nicks tem sido de facto um problema. Parece de facto um baile de máscaras.
Notem que esta comissão provisória é apenas o motor de arranque.
A minha ideia passa para que se abra um convite à apresentação de propostas para a realização do TAG 2007, sendo que a escolha da proposta vencedora para este congresso seria decidida, excepcionalmente, pela Comissão Provisória.Isto iria permitir que as propostas não eleitas pudessem manter a sua vontade de organizar o encontro, abrindo portas ao seu futuro. De igual modo teríamos a oportunidade de termos várias propostas concorrentes com uma ampla variedade de modelos.
É que um encontro não se resume a um modelo e é mesmo este espaço de inovação que pode ser aproveitado pelos organizadores ao longo do tempo para manter o interesse na iniciativa.
Em 2007 teremos um modelo, em 2008 pode haver outro, em 2009 outro, e por aí adiante (o TAG inglês existe desde 1979, algumas das regras que aqui exponho fui buscá-las ao modelo do CAA que funciona à mais de três décadas!!!).
Por experiência sei que organizador é sobretudo a vítima (mais ou menos inocente) que apanha com o trabalho todo :). Mas este modelo permite que hajam diferentes protagonistas ao longo do tempo, permitindo que todos possam beneficiar de poderem ter um dia o trabalho de organizar a conferência.
Se a ideia resultar teremos propostas logo no início que chegariam para irmos até 2010.”

Porém, continuamos a insistir na necessidade de se tentar debater neste blog em outros post, assuntos ligados a teoria, método, ética e valores.
Foram também adicionadas mais três entradas de sites que tratam sobre filosofia a nossa lista de links.

http://www.ifl.pt/
http://www.filosofia.org/filomat/pcero.htm
http://br.geocities.com/mcrost02/index.htm

Saudações.

12.5.06

TAG ou GAT, O que importa é que seja já.

De facto, o momento é agora.
Parece que a vontade de uma TAG nacional começa a crescer.
Como o Gonçalo escreveu no seu Blog:
“Penso que já é hora. Hora de construir algo diferente, onde se debatem temas prementes, onde todos são iguais e uns não são mais iguais do que outros. Um espaço onde todos se podem mostrar e ninguém tenha de se esconder.”
Porém, é necessário começar a dar forma a ideia antes que se esvaia. É necessário sermos sensatos e estarmos unidos por este ideal.
É urgente estarmos preparados para sabermos o que poderemos sugerir, pois todos nós sabemos a deficiência que existe na arqueologia portuguesa em relação a teoria. Um bom exemplo disto é a enorme quantidade de sites (vide links deste blog) estrangeiros que falam sobre teoria. E nós?...falamos sobre o quê?
O que podemos fazer e falar? O que temos que falar e fazer?
Abrimos este espaço para um debate com objectivo de aprender e de melhorar cada vez mais a investigação arqueológica neste Pais e para daqui a um ano o sonho se transforme em realidade.

Um Arqueólogo e Uma Arqueóloga

Objectivando o Diálogo

Não gostaríamos de ver deixado de parte o primeiro assunto: a teoria, a metodologia e outras considerações mais ou menos filosóficas, que actualmente são avançadas por alguns informados. O pensamento arqueológico!...
Também deveríamos falar de Wheeler, questionar a Harris Matrix e as concepções de Barker, no âmbito da Arqueologia actual. A diferença entre a Arqueologia de salvaguarda e de investigação não pode tornar-se num fosso. A qualidade deve ser exigida. E os retalhos da História de uma cidade, região ou país, devem acabar!...têm que acabar!
Acreditamos que estes temas são os pilares mais importantes, porque contribuem para o amadurecimento, autonomia e personalidade do grupo e da ciência.
A TAG é uma consequência da necessidade criada no seguimento desta discussão, deste diálogo que ainda devemos amadurecer mais!
Vamos abrir um espaço para avançar com o Theoretical Archaeology Group.
Entretanto é preciso informarmo-nos sobre processo de Bolonha (há necessidade de criar cursos de onde saia gente de pensamento independente e com flexibilidade!); é preciso insistir em formação contínua, no reconhecimento da carreira e no cartão de identificação, na deontologia e preparar-se para o mercado europeu.
As empresas e as universidades e outras entidades, e os próprios arqueólogos, insistem em continuar de costas voltadas… será por causa do dinheiro? Do poder?...valores tão efémeros perante o Património e a identidade…
Falava-se ontem na gestão do património. E fala-se sempre!... Será que estamos TODOS a devolver à sociedade o que lhe devemos? Note-se que o Património em que actuamos não é do X ou do Y. Note-se os dinheiros públicos e os dinheiros particulares usados nos trabalhos de arqueologia são da sociedade! E a legislação… que se vai alterando sem nunca servir, de facto, a causa e o fim que nos mantém a laborar!
Porquê debater os assuntos já referidos neste espaço? Porque todos devem ser informados sobre o aconteceu, o que acontece, objectivando futuros outros debates. Esta é a nossa ideia. Cada um falará do que sabe com vista à preparação para daqui a um ano. Que vos parece?


Uma Arqueóloga e Um Arqueólogo