14.7.06

A questão da teórico-prática não se limita ao campo da investigação científica



Instalou-se há muito tempo e continua instalada uma certa inacção no nosso ensino, embora haja cada vez mais necessidade de procurar respostas aos anseios e às dúvidas, projectando-se a realização de novos projectos que revigorem convicções ou criem novas. A questão da teórico-prática não se limita ao campo da investigação científica, mas igualmente ao ensino. Deve haver teoria na prática e prática na teoria, desenvolvendo-se assim uma crítica consciente e valorativa. A crítica da prática aduz elementos que podem ser pensados à luz da teoria. No ensino devem também tomar-se questões da prática social e encaminhá-las metodologicamente, justificando assim a necessidade da aprendizagem. A revisão deve ser permanente, o espírito deve estar vivo e ser actuante no mundo e do mundo.

A Declaração de Bolonha arrancou oficialmente em Junho de 1999, apresentando os passos a dar pelos sistemas de ensino superior europeus, versus a construção de um espaço de ensino superior europeu harmonizado.
Prevê-se uma organização estrutural de base idêntica, cursos e especializações semelhantes e comparáveis em termos de conteúdos e de duração, e diplomas de valor reconhecidamente equivalente tanto académica como profissionalmente.
Mas a globalização pode ser viciosa, e o aumento da competitividade, a promoção da mobilidade e a empregabilidade, promovida pelo sistema de graus académicos em dois ciclos, pode não ser efectivamente positiva se o país se esquecer das estruturas anteriores que o organizam.
Reconheçam-se as alterações ocorridas há uns anos nos 1.º, 2.º e 3.º ciclos que, preocupadas com as estatísticas, vieram promover e justificar a não aprendizagem dos alunos, permitindo a todos a saída da escola sem a preparação adequada.
E agora, será o nosso povo capaz de contribuir para a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo, acompanhado de uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego? Serão os dirigentes capazes de se preocupar com a qualidade em vez de apenas com a quantidade?

10.7.06

É Preciso Desafiar a Nossa Razão e a Nossa Maneira de Ser Racional!

Uma entrevista lida num jornal regional trouxe-me de volta às questões tanto aqui apresentadas.

O inquirido respondia que nestas coisas das ciências ditas sociais as “investigações científicas e laboratoriais” deveriam permitir “produzir um conhecimento objectivo, seguro e comprovado”.
Levou-me a pensar novamente nas teses direccionadas à relação/dicotomia entre sujeitos e objecto (s) enquanto entidades presentes no processo do conhecimento.
Sabemos que a arqueologia se situa teoricamente num cosmos de interfaces e faces teóricas bastante vasto, e que certamente ainda não esgotou todas as possibilidades de apreciação dos diferentes enfoques possíveis neste caleidoscópio.
Os alcances do pensamento arqueológico não se limitam ao laboratório!...
Mas se todas as focagens são imprescindíveis, é também necessário que se considere a possibilidade de decifração do todo como apenas possível enquanto empreitada colectiva!

Foucault, apelidado por alguns de pós-moderno, criticou Husserl e a sua fenomenologia por achar a sua fundamentação das relações semânticas débil, faltando-lhe o carácter ontológico definido. E ele próprio procurou fornecer os rudimentos de uma ontologia que seja profícua para garantir os fundamentos necessários, defendendo a inerência da significação à consciência, à subjectividade, como ponto originário de toda a significação e de toda a existência.

O homem apenas não é um facto natural. E o positivismo acreditava poder explicar as vicissitudes do homem a partir desta concepção. O homem não pode ser simplesmente explicado por nenhuma lei que rege a natureza. Ele é também um ser cultural…

Como podemos nós dar rigor ao raciocínio filosófico em relação a coisas tão mudáveis como as coisas do mundo real? Em verdade, o êxito do método científico está em que ele pode estabelecer uma "verdade temporária" útil, que será apenas verdade até que um facto novo mostre uma outra veracidade.