18.10.06

Sentir, dizer, expressar

A ciência pode considerar-se umas das maiores proezas da mente humana. Mas o que, de facto, mais importante a ciência nos ensinou, sobre o nosso lugar no universo, é não somos tão especiais…

De uma forma geral, parece-se certo pensar que o progresso tem sido construído passo a passo, por pessoas singulares, por grupos de pessoas, mas sempre a partir do trabalho dos antecessores. Umas vezes negando-os, outras vezes justificando-os e outras pulando, simplesmente, para fora … Veja-se que Galileu, por exemplo, não esteve sozinho… As rupturas não são efectivamente interrupções, são continuidades, ainda que signifiquem mudança.

Toda esta aventura torna a história da humanidade um caminho admirável!

Não vale a pena querer separar o indivíduo da sociedade. Cada um reage à sociedade de uma forma única e cada um contribui à sua maneira para a colectividade. Mas somos seres sociais.

As ligações entre o sujeito e o objecto, o indivíduo e a sociedade, o sistema e o subsistema (se quisermos usar os termos!) o natural e o cultural, o tempo e o espaço, estiveram sempre lá e continuam a estar.

Não acredito muito numa versão que defenda um complexo de inferioridade para um ou outro período do tempo, de uma Modernidade para uma Pós Modernidade, por exemplo. Defendo que há uma maior maturação, de temporada para temporada, mas também admito que se está sempre imaturo, porque acabaremos por avançar para um nova época ou um novo paradigma. A aprendizagem é constante, como é usual acontecer com a vida de cada indivíduo.

E nós, enquanto objecto e sujeito pensantes (com autodeterminação e submetidos à acção de outros agentes), somos susceptíveis a essas diferentes imagens ou sequências da continuidade. Perceber o homem, hoje e ontem, é perceber o argumento. Perceber o arqueólogo, ontem e hoje é querer perceber o tecido inteiro.

Enquanto sujeitos, parece-me que nunca deveríamos agir sem pensar no nosso objectivo final. E amadurecer, não arrastados pelas outras áreas de acção, mas preocupar-se realmente em chegar ao nosso objecto, sempre aproveitando novas técnicas, novas abordagens...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Li e lembrei-me: na obra As Palavras e as Coisas de Foucault, o conceito de solo epistemológico é o termo chave para que se possa discernir as rupturas, o nascimento de novos saberes, o papel do homem e das ciências humanas no século XX...

12:07 da tarde  
Blogger Joaquim Baptista said...

A pensar...

10:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Solo epistemológico= episteme=confirguração geral do saber, da época?

10:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Agora pode dizer-se, aceitando que não há barreiras estanques, que estamos na temporada do pós modernismo. A atitude científica, típica das formas de positivismo psicológico incorreu no erro de querer explicar as vicissitudes humanas a partir de conceitos redutores… e, se o homem não é um facto da natureza (apenas), não poder ser explicado por leis que regem a natureza. É preciso compreender e interpretar. Será que todos aceitamos Foucault e a fenomenologia em arqueologia? Pergunto.

6:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Acho que já passamos do pós-modernismo.
Agora, independente de estabelecer épocas coloco a questão do André de outra forma:
Porque não aceitar Foucault e a fenomenologia na arqueologia?

9:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hoje, numa reunião, estive com uma pessoa licenciada em filosofia. Como não costumo encontrar tanta gente com esta formação e acabei por comentar o engraçado (para mim) da situação... e durante a conversa ouvi o comentário: "De facto a filosofia está em tudo... mas ninguém atenta..." Agora lembrei-me de vir aqui…

Não. Nem todos aceitamos a fenomenologia. Ou pelo menos não é isso que (a) parece!
Foucaut foi um fenomenológico na sua juventude de investigador, ou pelo menos era fortemente influenciado pela fenomenologia. Preocupou-se em tirar-lhe elementos importantes para projectar uma psicologia que não dependesse da atitude redutora dos positivistas – uma psicologia não naturalizada!
Mas distancia-se da fenomenologia Husserliana. Rompe a cadeia entre o objecto e o sujeito e elimina a dependência semântica do objecto a algo (a uma consciência) como seu ponto de origem…

6:53 da tarde  

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