Nós e o saber
Pedimos desculpa pela nossa última ausência deste espaço. A labuta na Arqueologia a todos nós prende: ora mais, ora menos! Mas a crença na universalidade dos princípios ou a descrença nestes continuam a orientar-nos na busca dos adventos fundamentais; e a observação desta totalidade fomenta a teorização e/ou a procura de explicações que justifiquem o motivo de uma regra ou hipótese estar a ser frequentemente contrariada. Como acreditamos que muitas das linhas que nos guiam na actividade arqueológica portuguesa podem e precisam de ser repensadas, continuaremos cá. Vamos insistir em manter este espaço vivo!
O Fórum será entretanto igualmente sustentado!
Assim, para justificar (se é que precisa de ser justificado) o nosso debruçar-se sobre estas questões mais ou menos teóricas, deixamos…
"Quando dizemos que a filosofia não nos interessa, o que provavelmente fazemos é substituir uma filosofia explícita por outra implícita, isto é, imatura e incontrolada. [...] Esta filosofia caseira [...] supõe que um símbolo, tal como uma equação, possui significado físico somente à medida que diga respeito a alguma possível operação humana. Isto equivale a se considerar a totalidade da física como se referindo a operações, principalmente medições e cálculos, e não à natureza, o que implica num retorno ao antropocentrismo prevalecente antes do nascimento da ciência."
Mário Bunge
O Fórum será entretanto igualmente sustentado!
Assim, para justificar (se é que precisa de ser justificado) o nosso debruçar-se sobre estas questões mais ou menos teóricas, deixamos…
"Quando dizemos que a filosofia não nos interessa, o que provavelmente fazemos é substituir uma filosofia explícita por outra implícita, isto é, imatura e incontrolada. [...] Esta filosofia caseira [...] supõe que um símbolo, tal como uma equação, possui significado físico somente à medida que diga respeito a alguma possível operação humana. Isto equivale a se considerar a totalidade da física como se referindo a operações, principalmente medições e cálculos, e não à natureza, o que implica num retorno ao antropocentrismo prevalecente antes do nascimento da ciência."
Mário Bunge
9 Comments:
A indiferença, o silêncio e o cinismo são as colunas em que se estabelece a hipócrita igualdade em Portugal. Eu posso falar da experiência que foi começar a trabalhar: iniciei com os estágios em empresas de arqueologia, dirigidas por arqueólogos, hoje os meus colegas. Depois dos anos do curso, ensinaram-me, tal como se fosse para uma produção em série, a preencher as fichas de campo. Não era preciso pensar muito. O relatório e a interpretação nem seriam feitos por mim!
Ganhei uns trocos sem ter que limpar casas de banho!...
Não percebo o comentário anterior. Quero só dizer que a experiência e a prática têm muita importância. Mas se somos arqueólogos devemos pensar sobre o que estamos a fazer, em cada momento do trabalho arqueológico. Faz parte do homem cogitar e por isso acho impossível não o fazer automaticamente. Não sou nehum bicho de tarefas. Não sei se é filosofia caseira ou ciência o que faço, mas questiono-me sempre sobre qual o caminho melhor a seguir.
Boa noite.
http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/ingold/ingold1.htm:
"We human beings know a great deal. But we are able to be so knowledgeable only because we stand on the shoulders of our predecessors. As Durkheim noted long ago (1976 [1915]: 435), 'to that which we can learn by our own personal experience [is added] all that wisdom and science which the group has accumulated in the course of centuries'. The problem, which has remained at the heart of anthropological attempts to understand the dynamics of culture, is to fathom how this accumulation occurs. How is the experience that we gain during our lifetimes enriched by the wisdom of our ancestors? And how, in turn, does that experience make itself felt in the lives of descendants? More generally, in the creation and maintenance of human knowledge, what contribution does each generation make to the next?"
Tim Ingold
Será possível conhecer os sentidos e as racionalidades que fizeram cada sistema agir, no tempo?... e cada elemento do sistema actuar?
E nós, arqueólogos de hoje, agimos em conformidade como um grupo de arqueólogos para conseguir captar os tais sentidos?
Temos dado vida às técnicas de trabalho com o pensamento sobre o que fazemos? Eu sinto que não tem sido bem assim... sinto que deveriamos debater em grupo certos conceitos já adaptados à arqueologia e outros ainda não inseridos no nosso vocabulário.
Tendes todos razão, mas o pior é que sabemos que toda a gente procura um lugar ao sol e que só há sombra para os afilhados dos senhores da arqueologia. E tudo continua assim! há encontros para os amigos, reuniões com os afilhados e amizades com aqueles que sabem passar lustro. Neste país não se tem feito nada para todos. E o pensar também parece que não pode ser de todos nem com muito futuro. Se pensas demais arranjas emprego noutro sítio!
Será que fomos já fomos quase todos de férias? Está tudo tão calado!
Como já não obtenho respostas... quero acrescentar:
além da incursão na antropologia (conforme o texto de uma arqueóloga) é também na sociologia que podemos, nós os arqueólogos, ir buscar alguns ensinamentos para poder interpretar, no campo e no gabinete. Em qualquer das ciências que se debruçam sobre o ser humano, a lógica da investigação não é gerada a priori pelos quadros de análise do investigador. Este sujeito procura sim adquirir a lógica através da análise de todos os dados de campo (portanto empíricos) que vai recolhendo.
O objectivo dos investigadores, creio, não é provar hipóteses defendidas a priori e estanques, mas antes identificar as lógicas e racionalidades dos actores (inseridos no sistema), confrontando-as com o seu modelo de referência.
Lá porque o século XX foi cunhado com propostas provindas do pensamento positivista, penso que todos concordamos que desde os finais desse século que as estruturas se consideram sempre provisórias. E, portanto, já não se justifica a oposição entre sujeito e sociedade, dedução e indução, mas devem emergir e vigorar nas nossa mentes novas articulações ou rearticulações, interpretando-se a dinâmica social e cultural.
Principalmente as rearticulações. Porém, não devemos esquecer que na arqueologia não existe uma "receita de bolo", cada caso é um caso.
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