23.2.08

É fundamental falar a uma só voz (é por isto que estamos de volta!)

Cada vez mais arqueólogos sentem a necessidade de analisar o estado da nação. É preciso que o façam de forma concreta e proveitosa. Este tema lança-nos novamente para as considerações de Jürgen Habermas e induz-nos a defender um efectivo envolvimento de todos os agentes existentes no processamento do conhecimento arqueológico.
Exorta-nos, num primeiro plano, a pugnar a favor da união entre a teoria e prática, nos diferentes momentos e espaços de acção do arqueólogo, promovendo a auto reflexão. Este princípio do auto conhecimento implica que cada um se debruce sobre a validade dos fundamentos que promovem a sua actuação, enquanto actor, intra-sociedade. Dispensando qualquer cisão entre os profissionais de arqueologia, procurar-se-ia substitui-la pelo debate no seio da classe, produzindo-se um código de conduta e de valores éticos capazes de accionar uma lógica prática.
Num outro patamar, sempre de acordo com a lógica referida e considerando a arqueologia parte integrante do argumento espacial e temporal (onde o ritmo crescente das mudanças a que assistimos, influenciam claramente os diferentes olhares sobre esta disciplina), impõe-se a redefinição da sua missão, arrastando a prática do debate à restante sociedade.
Seguindo os preceitos da acção comunicativa de Habermas, tomando a concepção do domínio prático, a interacção humana social e/ou a intersubjetividade da compreensão mútua de intenções, parece-nos indispensável que haja uma maior interligação entre os arqueólogos e os outros actuantes, interligando-os um fio condutor: a procura de conhecimento e protecção do Património. E este envolvimento de todos acontece quando houver formação e informação que permita a toda a sociedade perceber que o passado e o presente não são compartimentos estanques, mas que brotam um do outro e todos estamos integrados neles.
Habermas retoma o projecto histórico-filosófico da modernidade, atribuindo à opinião pública a função de legitimar o domínio político por meio de um processo crítico de comunicação, sustentado nos princípios de um consenso racionalmente motivado. Pelo que a participação na discussão da construção de novos paradigmas e o consenso de todos constitui um mecanismo privilegiado de tomada de consciência e portanto de responsabilização: entre arqueólogos integrados num mesmo tipo de entidades, entre arqueólogos insertos em diferentes entidades e entre todos os parceiros sociais, proporcionando uma maior articulação entre o Estado e a sociedade.
Assim, novas medidas, debatidas em grupo, implicariam mais e melhor sensibilização, coordenação, articulação, auto-responsabilização, fiscalização e, a ser necessário, punição. O consenso social derivaria da Acção Comunicativa, corresponderia a uma orientação que responde ao interesse cognitivo por um entendimento recíproco e ao interesse prático pela manutenção de uma intersubjetividade.

Biblio: Habermas, J. (1962, 1994). The Structural Transformation of the Public Sphere, Cambridge, Polity Press.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É preciso diálogo. É preciso agir.

Andre

7:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

mas para isto é necessário união

11:44 da manhã  
Blogger Uma arqueóloga said...

Pois... mas tentar resolver questões teóricas, metodológicas, técnicas, deontológicas, sociais, económicas e outras que tais, sem haver união e comunicação... não me parece...

6:49 da tarde  

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